domingo, 7 de setembro de 2014

Uma casa em movimento

Uma mudança é muito mais do que simplesmente arrumar as coisas de um lugar para o outro, é entender que nada é completamente terminado, concluído ou acabado. Pode-se afirmar isso também das nossas vidas, num sentido mais amplo, o que é ótimo, pode ter certeza.

Há algum tempo, quando tinha 23 anos, vivi muitas coisas simultaneamente: concluía a faculdade de engenharia, organizava os preparativos para o casamento, recebia nosso primeiro apartamento comprado na planta, e havia sido selecionada para o meu primeiro emprego como engenheira recém formada.

Lembro de um momento, passada a formatura, casa pronta, festa de casamento, emprego estabilizado, ter pensado: e agora, o que falta? Tive a clara sensação de ter envelhecido uns bons anos nesse dia... Mas, (thank’s God) ainda havia muito por vir!

E, depois de tantas outras emoções, dos 23 aos 39, o futuro marido virou atual, 2 lindos filhos chegaram, o emprego é outro, amigos foram e voltaram, o mundo girou, os EUA estão sob o comando de um negro, o PT continua na presidência do Brasil, e... a casa com 3 quartos ficou pequena para tantas vontades diferentes. :)

Logo, eis-me aqui a planejar uma nova mudança.

Dizer que eu gosto de mudar de casa é uma ironia – eu detesto. Mas dessa vez é muito diferente, isso porque tive a oportunidade de adquirir um apartamento na construtora em que trabalho. Ou seja, ter a chance de mudar para algo em que eu pudesse intervir como profissional, em que as minhas necessidades e as da minha família servissem de base para construir algo feito especialmente pra atender a isso tudo, é algo além do que eu pudesse esperar ou pensar naquele dia, aos 23 anos...

Ao mesmo tempo, não posso negar, a ansiedade e a vontade de fazer tudo e um pouco mais é grande, é enorme, como também é inversamente proporcional ao tempo e aos recursos para deixar um apartamento de 132 m2 pronto (pronto?).

Mas o que podemos considerar mesmo como pronto? Difícil dizer. Para mim, sendo uma engenheira, convivendo com arquitetos e trabalhando numa construtora que preza pela qualidade e acabamento nos seus projetos, é de se esperar que eu queira e conheça bem o que é o melhor. Até agora, acho que estou conseguindo, e até mais: acho que estou superando minhas expectativas.

Mas, também estou falando de algo pessoal, não só profissional (dá-lhe Faustão), e aí também ocorrem as frustrações, o inesperado, projetos deixados de lado, escolhas não tão boas para encurtar o tempo de mudança (tempo=dinheiro é uma equação real!), além de ter de conciliar os desejos dos futuros moradores, como um pré-adolescente que quer colocar chuteiras em exposição, uma menina fã de Monsterhigh que quer caveiras e espelhos no quarto, um desenhista/tocador de violão (abrigar prancheta, livros e caixas de som num mesmo espaço não é para fracos), além das expectativas dessa dona de casa que vos escreve.

Isso para ter uma casa aconchegante, alegre, funcional, uma casa  realmente viva.

A Habitação, de Vincent Van Gogh

E aí chegamos no ponto crucial, pois como uma casa viva, ela continuará sendo construída, elaborada, mudada, transformada e em constante evolução. Isso porque ela não estará "pronta" quando as paredes estiverem cheirando a tinta, ou quando as luminárias aquecerem o ambiente, ou quando os móveis estiverem no lugar, ou quando o jardim florir perfumando a varanda, ou quando as prateleiras da sala abrigarem os porta-retratos, não! Ela estará se transformando, assim como aqueles que a fazem, que viverão nela. E a impressão que eu tive aos 23 anos só serviu para confirmar uma coisa: a gente não sabe de nada mesmo. Ainda bem! J



A casa é sua, Arnaldo Antunes