Uma mudança é muito mais do
que simplesmente arrumar as coisas de um lugar para o outro, é entender que
nada é completamente terminado, concluído ou acabado. Pode-se afirmar isso também das nossas vidas, num sentido mais amplo, o que é ótimo, pode ter certeza.
Há algum tempo, quando tinha 23
anos, vivi muitas coisas simultaneamente: concluía a faculdade de engenharia, organizava os preparativos para o casamento, recebia nosso primeiro apartamento
comprado na planta, e havia sido selecionada para o meu primeiro emprego como
engenheira recém formada.
Lembro de um momento, passada a formatura,
casa pronta, festa de casamento, emprego estabilizado, ter pensado: e agora, o
que falta? Tive a clara sensação de ter envelhecido uns bons anos nesse dia...
Mas, (thank’s God) ainda havia muito por vir!
E, depois de tantas outras emoções,
dos 23 aos 39, o futuro marido virou atual, 2 lindos filhos chegaram, o emprego
é outro, amigos foram e voltaram, o mundo girou, os EUA estão sob o comando de um negro, o PT continua na presidência do Brasil, e... a casa com 3
quartos ficou pequena para tantas vontades diferentes. :)
Logo, eis-me aqui a planejar uma nova mudança.
Logo, eis-me aqui a planejar uma nova mudança.
Dizer que eu gosto de mudar de
casa é uma ironia – eu detesto. Mas dessa vez é muito diferente, isso porque
tive a oportunidade de adquirir um apartamento na construtora em que trabalho. Ou seja, ter a chance de mudar para algo em que eu pudesse intervir
como profissional, em que as minhas necessidades e as da minha família servissem
de base para construir algo feito especialmente pra atender a isso tudo, é algo
além do que eu pudesse esperar ou pensar naquele dia, aos 23 anos...
Ao mesmo tempo, não posso negar,
a ansiedade e a vontade de fazer tudo e um pouco mais é grande, é enorme, como
também é inversamente proporcional ao tempo e aos recursos para deixar um
apartamento de 132 m2
pronto (pronto?).
Mas o que podemos considerar mesmo como
pronto? Difícil dizer. Para mim, sendo uma engenheira, convivendo com
arquitetos e trabalhando numa construtora que preza pela qualidade e acabamento
nos seus projetos, é de se esperar que eu queira e conheça bem o que é o
melhor. Até agora, acho que estou conseguindo, e até mais: acho que estou
superando minhas expectativas.
Mas, também estou falando de algo
pessoal, não só profissional (dá-lhe Faustão), e aí também ocorrem as
frustrações, o inesperado, projetos deixados de lado, escolhas não tão boas para
encurtar o tempo de mudança (tempo=dinheiro é uma equação real!), além de ter de conciliar os desejos dos futuros moradores, como um pré-adolescente que
quer colocar chuteiras em exposição, uma menina fã de Monsterhigh que quer
caveiras e espelhos no quarto, um desenhista/tocador de violão (abrigar
prancheta, livros e caixas de som num mesmo espaço não é para fracos), além das
expectativas dessa dona de casa que vos escreve.
Isso para ter uma casa
aconchegante, alegre, funcional, uma casa
realmente viva.
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A Habitação, de Vincent Van Gogh |
E aí chegamos no ponto crucial,
pois como uma casa viva, ela continuará sendo construída, elaborada, mudada,
transformada e em constante evolução. Isso porque ela não estará "pronta" quando as paredes estiverem cheirando a tinta, ou quando as luminárias aquecerem o ambiente, ou quando os móveis estiverem
no lugar, ou quando o jardim florir perfumando a varanda, ou quando as prateleiras da sala
abrigarem os porta-retratos, não! Ela estará se transformando, assim como
aqueles que a fazem, que viverão nela. E a impressão que eu tive aos 23 anos só
serviu para confirmar uma coisa: a gente não sabe de nada mesmo. Ainda bem! J
A casa é sua, Arnaldo Antunes