segunda-feira, 22 de abril de 2013

Drês



Voltando aos posts sobre músicas, em homenagem ao meu cantor favorito, Nando Reis, relembrando o CD Drês do ano de 2009, ano em que minha filha, Beatriz, nasceu.

Engraçado como o mesmo CD nos dá reações diferentes, em épocas distintas das nossas vidas. Hoje curto muito mais Drês do que naquela época... Talvez tenham sido os hormônios na ocasião. :)

Quem é fã sabe: a música que dá nome ao CD fala de uma ex-namorada chamada Adriana, e Drês é uma mistura do apelido Dri com três, que é a quantidade de músicas que o Nando fez para ela nesse disco. No final da faixa que dá nome ao disco, Nando narra um texto que não dá para entender, não mesmo, feito propositalmente com esse intuito, de não se entender... Coisas de Nando Reis.

E ele fala na entrevista sobre essa música: "É uma narração de um texto quase inaudível, incompreensível. Propositalmente o texto não estará no encarte. A função dele é uma locação meio perdida mesmo". E completa, explicando para a equipe da gravação: "uma voz lá no final, como se estivesse num púlpito".

O fato é que reescutando Drês nesses dias me deparei com uma vontade de desvendar o que o Nando falava no final dessa música. Fui até o DVD que traz um documentário sobre o álbum, e eis que o Nando lê em voz perfeitamente audível. Vamos à letra da música, e à poesia citada no final:

DRÊS
Nando Reis

Três dias atrás
Tudo era diferente
Três dias pra frente
Nada vai ficar igual
E eu tenho medo

É longe demais
Leva muito tempo
Ficou aqui dentro
Não some nunca mais
Foi muito cedo

Somos vegetais
Da flor a semente
Há pedra na gente
Efervescentes minerais
De ouro e vento

Terrenos mortais
Eternos no presente
Impérios latentes
Dos tempos ancestrais
Sonho e segredo

Três dias a mais
Todos drês e urgentes
Três dias somente
Poucos mas fundamentais
Eu te desejo, eu te desejo, eu te desejo, te desejo...

(Poesia citada ao final, durante a repetição da frase "te desejo")
"A lua que eu vi morrer nesta manhã
Cravou um botão no céu sobre o asfalto,
Retirou do espaço seu ar em vácuo
E germinou uma moeda viva.
Fiquei a olhar aquela enorme lua, crua,
Nua como uma bruxa que foi feita fada.
Fixei a paisagem com respeito e medo,
Pois da dramaticidade plástica do solo magno
Pendia uma marca tão evasiva que ardia drástica.
Entre a lua e você há um diálogo de sardas.
Uma música feminina que não compreendo inteiramente,
Mas sei que o seu efeito eu gosto e quero,
Você que lá brilhava."

Procurei postar o arquivo da música em mp3, original mesmo, com o texto no final, mas não consegui... Então deixo um vídeo no youtube com a apresentação da música num show em 2009. Dá pra perceber a batida forte e as intervenções da guitarra muito marcantes:


É isso. Boa semana. :)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Vida Perfeita

Martha Medeiros reuniu num único poema o que eu chamo de “vida perfeita”. Só mudaria o musse de limão pelo de chocolate... Não que eu não goste do de limão, mas pra ser perfeito mesmo, só o de chocolate. J



  
223.

vestidos muito longos e justos incomodam
o beijo dos galãs não tem sabor
e Hollywood fica longe demais
do meu supermercado favorito

ser bela e calma, quanta inutilidade
mais vale um bom olhar profundo
e uma vida de verdade

dois filhos de cabeça boa
um marido bem tarado
uma empregada chamada Maria
cinema de mãos dadas
um salário legal no fim do mês
aquela viagem marcada

novela, trânsito, profissão
sexo, banho morno, musse de limão

me corrijam se eu estiver errada
a realidade é nossa maior fantasia

Fonte: De Cara Lavada, 1995